quinta-feira, 23 de abril de 2009

Feijão Maravilha

Neste post, eu, Jopin Pereira, procuro trazer um pouco da filosofia que venho aprendendo com o ato de escrever, e que me leva a adotar para as coisas do comer e do beber. Valho-me para isso do "Catar Feijão", um metapoema de João Cabral de Mello Neto, um ato do cotidiano tomado como mote - ponto de partida -, em que também o escolher e o combinar são fundamentais. Total similaridade com a arte sacra - perdoem-me os fundamentalistas - de alquimizar sabores e sentidos. a audição; a visão; o tato; o paladar e o olfato.

Catar feijão

Catar feijão se limita com escrever:
jogam-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na da folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo;
pois catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.

Ora, nesse catar feijão entra um, risco
o de que entre os grão pesados entre
um grão imastigável, de quebrar dente.
Certo não, quando ao catar palavras:
a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
obstrui a leitura fluviante, flutual,
açula a atenção, isca-a com risco.


Catar é uma forma de escolher. Assim fazemos quando nos dedicamos a pesquisar um sabor, geralmente mesclado a tantos outros e que no meio dessa nuvem saborótica, este único se destaca. Mesmo que não se priorize, ele vem na frente seguido do seu séquito de aromas.

Como no "catar feijão"em busca do sabor primordial, vamos retirando da gororoba tudo aquilo que vai sobrando: espumas flutuantes (perdão, Castro Alves), peles, cascas, caroços, resíduos em geral, no entanto se preservam as lembranças olfativas de diversos momentos da vida, preferências, novidades, aquele cheiro do churrasquinho da esquina, da fruta diferente cheirada no horti, o perfume de uma lasanha chegando á mesa, aquela lufada que vem da cozinha. Livrar-se das ecas, preservar os ecos aromáticos (assim como o som, o sabor ecoa). Mas é preciso cuidado! Há coisas que não bóiam, nem no texto nem na panela. Requer um mergulho nas reentrâncias das palavras ou dos ingredientes para identificar e recolher o elemento estranho. Às vezes, esses entes mágicos do nosso dia-a-dia, quando juntados, podem revelar agradáveis surpresas.

Deixemos de lero-lero, vamos ao ponto (com dizem os entrevistadores na TV) da abordagem do blog.

Catando feijões por aí descobri uma receita, talvez inusitada, que mesmo sendo habitante das profundezas do convencional, atada a flutuadores da curiosiodade, veio à tona.
Para os alquimistas do sabor sempre é bom amalgamar ingredientes usuais em processos inusuais e vice-versa: nesse caso, a usualidade do arroz e do feijão com o excêntrico chocolate, convertidos pela alquimia, a um doce. Bom para a criançada – pequena ou grande – que às vezes não tem muita simpatia pelas formas convencionais de se processar a fantástica leguminosa, mas que sempre gosta de encarar uma novidade (recomendo que não revelem os ingredientes até o final da degustação), principalmente um docinho, e ainda mais, com máscara de chocolate.


Queiram ou não, esse par perfeito é o casal mais completo e feliz da mesa brasileira (quem sabe, da cama também?), que se junta á um terceiro ente, para um sedutor ménage à trois do sabor. Sejam bem-vindos à lua-de-mel com os casadinhos e o amante! Arrisquem, mas atenham-se ao verso que fecha o poema - "açula a atenção, isca-a com risco." -, e me contem!





Casadinho de Arroz e Feijão: "Par Perfeito"

Autoria: Priscila Z. Bassinello e Renilda A. Ferreira (EMBRAPA)
Rendimento: 100 unidades
Observação: eu não experimentei a receita. Aguardo comentários.

Recheio de doce de arroz
Ingredientes
1,5 litro de leite comum
1 lata de leite condensado2 copos (americano) de farinha de arroz*1 pitada de salchocolate branco em barra para cobertura
*Se não encontrar a farinha de arroz para comprar, moer os grãos crus de arroz branco em liquidificador usando quantidade suficiente para obter a farinha necessária (pó fino e branco).
Modo de Fazer
Misturar a farinha de arroz com o leite e leite condensado
Colocar todos os ingredientes em uma panela.
Levar ao fogo brando até formar um creme firme (ponto de bala), mexendo sempre.
Deixar esfriar e reservar.

Recheio de doce de feijão
Ingredientes
500g de feijão preto3 copos (americano) de açúcar refinado2 colheres (café) de essência de baunilha2 litros de água para cozinhar o feijãochocolate preto (ao leite) em barra para cobertura

Modo de Fazer
Cozinhar o feijão em panela de pressão usando apenas água (sem sal).
Bater no liquidificador com o próprio caldo.
Colocar esse creme em uma panela e adicionar o açúcar e a essência de baunilha.
Levar ao fogo brando até ferver, mexendo sempre para não grudar.
Deixar cozinhar durante aproximadamente uma hora.
Aumentar o fogo e cozinhar até apurar, ou seja, quando desgrudar da panela e formar uma massa firme.
Colocar em uma vasilha e deixar esfriar.

Casadinho "Par Perfeito"
Modo de Fazer
Derreter os chocolates (o branco e o preto) separadamente.
Despejar quantidade suficiente em pequenas fôrmas plásticas – com formato de coração, por exemplo – e pincelar para espalhar e formar a cobertura do casadinho, a qual não deve ser muito espessa.
Preparar quantidades iguais de coberturas de chocolate branco e preto.
Levar ao refrigerador ou congelador.
Rechear cada metade com doce de arroz e doce de feijão, respectivamente.
Unir as metades do coração.
Pode-se usar uma "ponta de colher" de doce-de-leite cremoso para facilitar a união das partes. Se desejar, polvilhar levemente o casadinho com leite em pó para decorar.
Manter sob refrigeração.

Jopin Pereira

4 comentários:

Beta Bernardo disse...

Tenho implicância com feijão desde a infância. Os caroços me causam uma certa repulsa até hoje... fico no caldo!! Mas adoro uma feijoada, um caldinho de feijão na Academia da Cachaça... todos muito bem temperadinhos. Mas os caroços... isso é trauma de infância!!
Belo post!!
Bjks, Beta

Blog do Jopin disse...

Beta, não é só você que tem essa, digamos, antipatia..rs. Conheço um time! Seria ao visual do caroço, à forma, quando se juntam na panela, ou o que? Muito bom que se mostra apreciadora pelo sabor, citando o caldinho e a feijoada, que são formas, digamos, físicas, bem diferentes, do mocinho se apresentar. Poderíamos pedir uma ajuda aos japoneses, que andam fazendo melancias quadradas e adaptar o método para “enquadrar” os redondos carocinhos, e até colori-los em outros tons mais alegres.rs... Quem sabe com a nova carinha, você não faz as pazes com eles, hein? rs..
Obrigado pelo comentário. Bijus do Jopin

Kyria disse...

Hum...
Vou gostar deste blog, é lindo e saboroso, abraços.

Jopin Pereira disse...

25abr09_ Olá, Kyria, somos nós que estamos gostando de sua linda presença. Alquimia de sabores, aromas e palavras é a nossa proposta. O blog e os blogueiros agradecem! Bijus do Jopin

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