quarta-feira, 29 de abril de 2009

Um visita à Concha Y Toro

Desde que pensei em montar esse blog já imaginava fazer minhas postagens sobre vinhos. Afinal. como enófilo e atual estudante de vinhos da Associação Brasileira de Sommeliers, é um prazer falar sobre esse assunto. Então, para a estréia do tema aqui no Sabor&Alquimia, escolhi falar sobre uma experiência muito marcante e que talvez tenha sido o estopim para minha entrega a esse novo mundo de informações e prazeres chamado vinho!

No ano passado, como já contei no post do restaurante Puerto Fuy, estive em Santiago, no Chile, e em uma das oportunidades, eu e Paula tivemos a chance de fazer um tour por uma das vinícolas mais tradicionais do Chile e talvez uma das mais conhecidas do Novo Mundo, a Concha Y Toro. Bem, prá quem não sabe, as expressões Novo Mundo e Velho Mundo são muito utilizadas tanto por quem entende, ou não de vinhos. Neste caso, Novo Mundo compreende os paises do continente americano e ainda os da Oceania. Já os do Velho Mundo, incluem os paises dos continentes Europeu, Africano e Asiático.



A vinícola de Concha Y Toro foi fundada por Dom Melchor Concha Y Toro no ano de 1883, em Pirque, no Vale do Maipo. Através da importação de vinhas trazidas de Bordeaux, região francesa tradicional na produção dos melhores vinhos do mundo, Dom Melchor iniciou seu projeto. Para conhecer mais da história de Dom Melchor e da vinícola, acesse o site http://www.conchaytoro.com/




A vinícola fica aproximadamente a 40km da cidade de Santiago. Fomos através da agência Ekatours http://www.ekatours.cl/ que disponibilizou os translados e mais o tour de visitação. Saiu ao preço de U$50 por pessoa.



No caminho até a vinícola, foi muito legal ver todas aquelas parreiras alinhadas. Como estávamos em outubro, época da primavera, as parreiras não estavam frondosas e pareciam podadas. Na ocasião eu não sabia, mas estava assistindo ao início do ciclo vegetativo das videiras que geralmente acompanham as estações do ano.



Um aspecto super importante das uvas no Chile é que a região de cultivo traz perfeitas condições de plantio. Protegido por barreiras naturais, tendo as geleiras ao sul, o deserto de Atacama ao norte, as Cordilheiras dos Andes a leste e o oceano Pacífico a oeste, o Chile conseguiu se manter como um dos poucos paises a plantar em "pé-franco", ou seja, sem que suas vinhas sejam enxertadas. Em outro momento, volto pra explicar com detalhes esse processo de enxertia e aproveito pra contar a terrível história da filoxera e da quase extinção da uva Carmenère.


Através dos anos a Concha Y Toro investiu pesado com dedicação e tecnologia na melhoria de seus vinhos. Mas alguns aspectos culturais ainda são mantidos e um deles, que pude notar durante o tour de visitação, foi que na cabeceira das filas das videiras haviam roseiras. O guia nos contou que elas eram usadas antigamente com a função de alarme, pois são bem sensíveis. Caso a roseira começasse a apresentar algum problema em termos de doença, isso serviria de alerta para começar o tratamento das videiras de forma que não afetasse as restantes. Embora esse não seja o sistema de controle padrão atual, pois há recursos muito mais avançados, eles ainda mantiveram algumas por tradição.




Durante o tour tivemos duas degustações. Uma delas foi a do Casillero del Diablo Carmenère 2007. É um vinho muito bom, com uma cor não tão escura para um tinto, beirando à coloração cereja. Apresenta boa quantidade de álcool (13,5%) e um pouco de acidez. O aroma era meio frutado. Foi servido a uma temperatura de 16 graus na taça, que inclusive nos foi dada de presente. O outro vinho degustado foi o incrível Marquês de Casa Concha Cabernet Sauvignon 2006. Esse tem uma coloração bem mais acentuada, tendendo para uma cor mais escura, tipo framboesa. O aroma lembra amora e, ao mesmo tempo, tem um sabor meio amadeirado também. É bem encorpado e estruturado. A sensação era bem perceptível, pois como havia degustado o Casillero anteriormente, a comparação era inevitável. Com certeza dava pra notar a superioridade do Marquês de Casa Concha.




Ainda durante o tour passamos por um setor onde se viam vários barris de carvalho, onde o vinho amadurece. O ambiente era mantido a uma temperatura bem baixa. É a fase onde ele se aprimora e suaviza. Hoje em dia já existem tanques de aço que realizam a mesma tarefa, mas a preferência é pela madeira, pois com ela o vinho consegue adquirir elementos que dão maior estrutura e complexidade. Os barris são, geralmente, produzidos na França e chegam a custar algo em torno de U$700/U$1200 e, depois de alguns anos de uso, são descartados e vendidos a preços irrisórios, pois não têm mais utilização dentro da produção de vinho fino.



No meio do caminho, ainda no tour, fomos visitar a adega que deu origem à lenda do Casillero Del Diablo. A história conta que Dom Melchor, o dono da Concha Y Toro, guardava seus vinhos de maior qualidade numa adega particular. Ele notou que algumas garrafas estavam sumindo com o tempo e começou a desconfiar do pessoal das redondezas. No intuito de tentar coibir o furto, ele inventou uma lenda de que o diabo habitava o porão no qual os vinhos eram guardados. Isso impressionou os moradores da região e os vinhos pararam de ser saqueados. Com essa lenda nasceu um dos vinhos mais conhecidos da Concha Y Toro, o Casilleiro del Diablo. Na foto, o diabo está lá pra assustar aqueles que não acreditam na lenda. Brincadeira! É só uma forma de manter a lenda viva.




Com o término do tour, fomos para a loja e o wine bar do Concha Y Toro. Lá encontramos todos os vinhos de fabricação da Concha. O Casillero del Diablo, Trio, Carmín de Peumo, Sunrise, Amelia, Frontera, Marquês de Casa Concha, Terrunyo e os famosos e excelentes Dom Melchor e Almaviva. O Almaviva é um vinho excepcional, lançado pela parceria da Concha com a famosa e renomada vinícola francesa Baron Phillippe de Rotschild, em 1996. Apesar do Chile não ter uma classificação oficial para seus vinhos, o Almaviva foi considerado um "Primer Orden", que é um termo espanhol equivalente à categoria francesa "Grand Cru", o que revela o alto grau de classificação desse vinho. O termo "Grand Cru" não denomina diretamente a classificação de qualidade do vinho, mas sim uma classificação regional que indica o potencial do local (terroir) onde aquele vinho está sendo produzido. É a mais alta das quatro classificações de vinho usadas na Borgonha e Alsácia.




De qualquer maneira essa incrível viagem foi sensacional. Além de ter sido um passeio e tanto, foi uma experiência totalmente nova, que me abriu a possibilidade e motivação para iniciar o curso de vinhos da ABS. Curso esse que já estou no segundo módulo.
Bem, espero que tenham gostado!! Até o próximo post! Bjs!



João Guedes Pereira

15 comentários:

Jopin Pereira disse...

João, não vou falar de surpresas, pois sei que, quando se dedica a algo, você vai na profundidade. Acompanhar a sua evolução é tão somente o prazer de testemunhar o que era previsível. Ler o post e aprender o que o seu relato passa, com simplicidade, no entanto pleno de qualidade e densidade de informação, me enriquece e ratifica de forma especial. Mas não vim aqui para te elogiar, rs.. embora a vontade sempre se manifeste. Muito bom o conteúdo sobre a história do Concha y Toro. Eu estive no Chile nos idos de 1999, mas ainda não tinha sido mordido pela filoxera, muito menos contaminado pelo vírus “vitis vinifera”. Apenas saboreava o vinho, sem muita dedicação ao seu pedigree, muito mais pela novidade e apelos enoetílicos..rs.. Hoje, percebo o quanto venho apreendendo a ir mais longe que a simples degustação, captando toda a aura, a história e os prazeres que essa sacra bebida enleva e traz ao homem. E, a sua parceria tem me estimulado cada vez mais a percorrer esse caminho. Parabéns pelo post. Bijuss do Dad Jopin.

Jopin Pereira disse...

...c o r r e ç ã o...: "Ler o post e aprender o que o seu relato passa, com simplicidade, no entanto pleno de qualidade e densidade de informação, me enriquece e gratifica de forma especial."

Katia Bonfadini disse...

João, seu post é muito completo! Como adoro aprender coisas novas, foi muito inyteressante saber dos preços dos barris de carvalho e da lenda do Casillero! Confesso que, quando estivemos lá e o guia nos explicou essa parte, eu devia estar tirando fotos e não prestei muita atenção! Aliás, outra coisa que tem me impressionado nos seus posts, são suas fotos! Lindas, com ângulos bem escolhidos e foco perfeito! Você está muito profissional! A primeira foto da sede da vinícola parece uma pintura, de tão perfeita! Parabéns pelo capricho, pela pesquisa, pelas fotos e pelo belíssimo post!

Verônica Cobas disse...

Também penso que sem história a vida não tem graça. O roteiro que criamos, ou experimentamos, nos dá o sabor e traz a aventura do que quisermos experimentar. Já fiz a visita à vinícola, mas hoje - lendo o seu post e no contexto das imagens - retornei ao Chile e aprendi várias coisas. Porque o olhar do outro é sempre uma forma nova de contar a mesma história. E como disse acima, reafirmo: sem história não tem graça.
O que seriam dos grandes romances se não fosse a história criada, inventada, sugerida, inspirada.
João...amigo tão querido...seus post está delicioso e equilibrado, com os toques de suavidade e sedução indispensáveis a tudo na vida, principalmente à degustação de um bom vinho. Tintim!!!!

bjs

Nicinha disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Nicinha disse...

João,
É muito bom aprender algo além do trabalho diário.Tenho aprendido bastante aqui nesse espaço.Viajamos nas palavras e no conhecimento.
Fazer projetos de Paisagismo é muito legal, mais nada se compara colocar a mão na terra. Adoro jardinagem, e no momento a minha paixão é o café, quem sabe ainda faço um curso de barista.
Bem o vinho para mim tem que ser bem suave,com teor alcoolico baixo, vamos dizer quase sangria :)Pode sugerir alguns,para acompanhar um Founde?
Muito legal o post. Parabéns....
Abraços Nicinha

João Luis Guedes P. Pereira disse...

Jopin:
Pai, a viagem ao Chile foi uma marco que fez com que eu iniciasse essa atração pelo mundo dos vinhos. Atração essa que foi focada e expandida para o aprendizado no assunto, inclusive com a sua parceria no curso da ABS! Vamos juntos nessa investida!! Bjs!!

João Luis Guedes P. Pereira disse...

Kátia: Como lhe falei, essa nova paixão por vinhos me acendeu um vontade de conhecer mais. Na época em que estive no Chile, as informações que recebi eram meio perdidas, mas foram se juntando a medida que comecei conhecer mais sobre o assunto. As fotos que tirei realmente ficaram muito boas, até porque a máquina ajudou bastante pois tinha alguns recursos bem legais pra valorizá-las!! Valeu pela leitura e obrigado pelos comentários! Bjs!!

João Luis Guedes P. Pereira disse...

Verônica:
Essas históricas que contam histórias realmente tem todo um sabor especial pra mim. Associadas a esse novo encantamento pelo mundo dos vinhos, me conquistam ainda mais. Com certeza pretendo voltar ao Chile em outras ocasiões para ouvir e presenciar outras histórias de outras vinícolas e saborear e degustar outros vinhos mas agora com muito mais informação e apreciação!! Bjs, amiga!!

João Luis Guedes P. Pereira disse...

Nicinha:
Obrigado pela sua participação mais uma vez, pois ela é sempe bem vinda! Que bom que tenha gostado das informações dessa viagem pelos vinhos e mais especificamente da Concha Y Toro.
Que legal essa paixão por café! Esse é um tema que tem muita história por trás. Além de todos os detalhes técnicos de tipos de grãos, várias técnicas de produção e feitio do café.
Quanto a sugestão para o Fondue, eu te digo que em qualquer harmonização, o conceito é sempre aliar o bom senso ao gosto pessoal.
Eu te aconselharia um vinho tinto de estrutura média cabernet sauvignon, pois no fondue você vai comer carne, frango e até camarão. Caso seja um fondue só de queijo, acho que um branco do tipo riesling ou sauvignon blanc funcionam bem. Mas, no seu caso, como você não gosta muito de vinhos muito secos e nem de muito alcóol, e tem como base de gosto pessoal a sangria, e te aconselho a você experimentar os vinhos rosés, pois são mais frutados. Pode ser um Malbec ou um Shiraz. Argentino ou Chileno. Caso queira uma sugesão de nomes segue: Alamos Malbec Rosé ou Casilleiro del diablo Rosé Shiraz. Espero que goste da sugestão!! Bjs!!

Nicinha disse...

João,
Obrigada pela dica e atenção, vou tomar nota e como estou indo a Argentina, e Julho vai está muito frio,quero provar a gastronomia, a Kátia já deu a dica da carne de cordeiro, vamos vê se dar para acompanhar com o vinho.
Novamente você deu uma aula.
Quero aprofundar no café, assim como você no vinho.
Uma abraço e ótima semana!!!
Nicinha

*-...-* Ana Anita *-...-* disse...

Te juro que estou encantada... Minhas paixões pela gastronomia, sempre remetem a bons acompanhamentos e ótimas bebidas, e fui buscando algo sobre vinhos que cheguei a ti... Fiquei fascinada com seu blog é lindo e tu tens uma maneira gostosa de colocar seu texto, que nos prende a leitura...

Bom, já estou te seguindo...Caso queira conhecer meu blog, e quem sabe ate me dar a honra de seguir-me, ficarei feliz com sua visita...

bjs e boa semana! Anita.

João Luis Guedes P. Pereira disse...

Olá Anita! Que bom que tenha gostado. Eu sou novo na área do blog e tô adorando compor esses assuntos. Pena que o tempo seja tão curto pra tanta coisa. De qualquer forma, que bom saber que vc também é fã da gastronomia. Vi o seu blog e já percebi que o seus predicados com a culinária vão além da teoria! Gostei muita da receita da torta de cereja. Qualquer dia vou tentar a receita. Já me cadastrei como seguidor!! Com certeza vou acompanhar as novidades!
Percebi que vc mora Uruguai. As uvas tannat são as mais usadas para os melhores vinhos uruguaios. Com as vinícolas Montevideu e Canelones, elas produzem 80% de todo o vinho do Uruguai. Opa, já dá até um post sobre a história! Prometo uma hora dessas postar!! bjs e boa semana pra vc também!!

Karla Lemos disse...

Seu post me fez lembrar o passeio ao Chile, e você sabe fomos à Vinícola também, mas no mês de fevereiro... não lembro de ter visto as rosas, mas o cenário estava bem diferente, estava para começar a colheita e as parreiras carregadas dava água na boca. Mas, realmente a imensidão e a visão do fundador me impressionou, o lugar e mágico, que vontade de ficar lá. bjs Karla

João Luis Guedes P. Pereira disse...

Karla:
Não dei tanta sorte em ver as parreiras frondosas. A época em que vocês foram era próxima à vindima.
Compartilho com você a alegria de poder ter estado num cenário tão belo como aquele. Não só a Vinícola, como Santiago por inteiro.
Um dia quero voltar lá!!
Bjs

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