No ano passado, como já contei no post do restaurante Puerto Fuy, estive em Santiago, no Chile, e em uma das oportunidades, eu e Paula tivemos a chance de fazer um tour por uma das vinícolas mais tradicionais do Chile e talvez uma das mais conhecidas do Novo Mundo, a Concha Y Toro. Bem, prá quem não sabe, as expressões Novo Mundo e Velho Mundo são muito utilizadas tanto por quem entende, ou não de vinhos. Neste caso, Novo Mundo compreende os paises do continente americano e ainda os da Oceania. Já os do Velho Mundo, incluem os paises dos continentes Europeu, Africano e Asiático.

A vinícola de Concha Y Toro foi fundada por Dom Melchor Concha Y Toro no ano de 1883, em Pirque, no Vale do Maipo. Através da importação de vinhas trazidas de Bordeaux, região francesa tradicional na produção dos melhores vinhos do mundo, Dom Melchor iniciou seu projeto. Para conhecer mais da história de Dom Melchor e da vinícola, acesse o site http://www.conchaytoro.com/


A vinícola fica aproximadamente a 40km da cidade de Santiago. Fomos através da agência Ekatours http://www.ekatours.cl/ que disponibilizou os translados e mais o tour de visitação. Saiu ao preço de U$50 por pessoa.
No caminho até a vinícola, foi muito legal ver todas aquelas parreiras alinhadas. Como estávamos em outubro, época da primavera, as parreiras não estavam frondosas e pareciam podadas. Na ocasião eu não sabia, mas estava assistindo ao início do ciclo vegetativo das videiras que geralmente acompanham as estações do ano.
Um aspecto super importante das uvas no Chile é que a região de cultivo traz perfeitas condições de plantio. Protegido por barreiras naturais, tendo as geleiras ao sul, o deserto de Atacama ao norte, as Cordilheiras dos Andes a leste e o oceano Pacífico a oeste, o Chile conseguiu se manter como um dos poucos paises a plantar em "pé-franco", ou seja, sem que suas vinhas sejam enxertadas. Em outro momento, volto pra explicar com detalhes esse processo de enxertia e aproveito pra contar a terrível história da filoxera e da quase extinção da uva Carmenère.

Através dos anos a Concha Y Toro investiu pesado com dedicação e tecnologia na melhoria de seus vinhos. Mas alguns aspectos culturais ainda são mantidos e um deles, que pude notar durante o tour de visitação, foi que na cabeceira das filas das videiras haviam roseiras. O guia nos contou que elas eram usadas antigamente com a função de alarme, pois são bem sensíveis. Caso a roseira começasse a apresentar algum problema em termos de doença, isso serviria de alerta para começar o tratamento das videiras de forma que não afetasse as restantes. Embora esse não seja o sistema de controle padrão atual, pois há recursos muito mais avançados, eles ainda mantiveram algumas por tradição.
Durante o tour tivemos duas degustações. Uma delas foi a do Casillero del Diablo Carmenère 2007. É um vinho muito bom, com uma cor não tão escura para um tinto, beirando à coloração cereja. Apresenta boa quantidade de álcool (13,5%) e um pouco de acidez. O aroma era meio frutado. Foi servido a uma temperatura de 16 graus na taça, que inclusive nos foi dada de presente. O outro vinho degustado foi o incrível Marquês de Casa Concha Cabernet Sauvignon 2006. Esse tem uma coloração bem mais acentuada, tendendo para uma cor mais escura, tipo framboesa. O aroma lembra amora e, ao mesmo tempo, tem um sabor meio amadeirado também. É bem encorpado e estruturado. A sensação era bem perceptível, pois como havia degustado o Casillero anteriormente, a comparação era inevitável. Com certeza dava pra notar a superioridade do Marquês de Casa Concha.
Ainda durante o tour passamos por um setor onde se viam vários barris de carvalho, onde o vinho amadurece. O ambiente era mantido a uma temperatura bem baixa. É a fase onde ele se aprimora e suaviza. Hoje em dia já existem tanques de aço que realizam a mesma tarefa, mas a preferência é pela madeira, pois com ela o vinho consegue adquirir elementos que dão maior estrutura e complexidade. Os barris são, geralmente, produzidos na França e chegam a custar algo em torno de U$700/U$1200 e, depois de alguns anos de uso, são descartados e vendidos a preços irrisórios, pois não têm mais utilização dentro da produção de vinho fino.
No meio do caminho, ainda no tour, fomos visitar a adega que deu origem à lenda do Casillero Del Diablo. A história conta que Dom Melchor, o dono da Concha Y Toro, guardava seus vinhos de maior qualidade numa adega particular. Ele notou que algumas garrafas estavam sumindo com o tempo e começou a desconfiar do pessoal das redondezas. No intuito de tentar coibir o furto, ele inventou uma lenda de que o diabo habitava o porão no qual os vinhos eram guardados. Isso impressionou os moradores da região e os vinhos pararam de ser saqueados. Com essa lenda nasceu um dos vinhos mais conhecidos da Concha Y Toro, o Casilleiro del Diablo. Na foto, o diabo está lá pra assustar aqueles que não acreditam na lenda. Brincadeira! É só uma forma de manter a lenda viva.

Com o término do tour, fomos para a loja e o wine bar do Concha Y Toro. Lá encontramos todos os vinhos de fabricação da Concha. O Casillero del Diablo, Trio, Carmín de Peumo, Sunrise, Amelia, Frontera, Marquês de Casa Concha, Terrunyo e os famosos e excelentes Dom Melchor e Almaviva. O Almaviva é um vinho excepcional, lançado pela parceria da Concha com a famosa e renomada vinícola francesa Baron Phillippe de Rotschild, em 1996. Apesar do Chile não ter uma classificação oficial para seus vinhos, o Almaviva foi considerado um "Primer Orden", que é um termo espanhol equivalente à categoria francesa "Grand Cru", o que revela o alto grau de classificação desse vinho. O termo "Grand Cru" não denomina diretamente a classificação de qualidade do vinho, mas sim uma classificação regional que indica o potencial do local (terroir) onde aquele vinho está sendo produzido. É a mais alta das quatro classificações de vinho usadas na Borgonha e Alsácia.
De qualquer maneira essa incrível viagem foi sensacional. Além de ter sido um passeio e tanto, foi uma experiência totalmente nova, que me abriu a possibilidade e motivação para iniciar o curso de vinhos da ABS. Curso esse que já estou no segundo módulo.
Bem, espero que tenham gostado!! Até o próximo post! Bjs!
João Guedes Pereira